sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A relacao entre o mundo e um ovo

No domingo passado subi por teleferico a montanha Avila, onde Caracas esta encostada. Um lugar realmente lindo. Muia neblina, frio, uma vista de paralisar o olhar por horas. E o melhor: uma pista de gelo!

Olhei para mim e refleti à moda das minhas queridas tias: onde ja se viu, sou uma moca! Quase 23 anos na cara. Minha dignidade nao pode escorrer gelo afora.

Dois minutos depois estava eu com um patins numero 36 no pe, tombando entre a criancada caraquenha. Uma alegria! Ninguem me conhecia mesmo, pensei eu, vou aproveitar!

Na terca-feira fui almocar num lugar proximo de onde tinha que fazer uma entrevista. Era novamente uma moca seria, de dar gosto às minhas queridas tias. Quando menos espero me vira um senhor e pergunta: era voce que estava patinando no gelo domingo, nao era?

Tenho que lhes dizer, a solidao e uma ilusao. Principalmente quando se esta com um par de patins roxo nos pes.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Una cita con el Diablo



Os inadimplentes venezuelanos tem muito o que temer. A empresa aí da foto, a Dr. Diablo´s & Associados, captou todo o sadismo que pode passar pela cabeca de quem nao recebe o seu dinheiro em dia e bolou uma idéia no mínimo engracada.

Duas mulheres vestidas de capeta (sim, loiras peitudas, com botas vermelhas que vao até o meio da coxa) e o diabo himself visitam a casa do pobre coitado que nao pagou a sua conta. Vao a bordo de um espalhafatoso carro preto, com chamas vermelhas pintadas na fuselagem, bradando num megafone, para toda a vizinhanca ouvir, que o Diabo está chegando para pegar de volta o dinheiro do seu cliente.

Por estas bandas, com dinheiro até que pode se brincar um pouco...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Inventamos ou erramos


Propaganda se sabao em pó. Mae, pai e filhos reunidos numa casa toda em branco e cinza, estérea, limpa como uma casa de propaganda de sabao em po tem que ser. Todos de aparencia bem europeia, pele branca, olhos azuis, brindando a vida feliz com cheiro de lavanda, enquanto as camisas e calcas brancas vibram ao sabor do vento caribeño.

Fiquei com esse comercial na cabeca. Quando ando por Caracas nao consigo encontrar uma casa que possa ter sido cenário dos 30 segundos de propaganda. Por aqui é tudo colorido demais, agitado demais. Os varais estao nas janelas, estampados de vermelho e amarelo gritantes. O povo está nas ruas, escancarando fisionomias que misturam séculos de história e de povos distintos. Índios amazonicos e andinos, povos europeus e negros, tem de tudo. Nada é totalmente branco com cheiro de lavanda.

Perto de onde estou tem um muro onde está escrito ¨Inventamos ou erramos". Aqui, as coisas funcionam seguindo essa tonica. Em um dos parques da cidade, Parque do Leste, tinha uma enorme reproducao de uma das caravelas de Colombo. Há alguns meses ela foi retirada para dar lugar a um monumento em homenagem a Miranda, um dos heróis da independencia venezuelana. Outro exemplo: na praca Venezuela uma escultura de 2,10 de Colombo foi retirada, e no seu lugar será construído uma estátua em homenagem aos povos indígenas.

A todo momento a Venezuela parece querer impor a sua prórpia história, e refutar as versoes que vem de fora é um dos expedientes fundamentais para isso. Alguns chamam essa atitude de antiimperialismo, mas nao quero aqui colocar rótulos nem evocar figura política nenhuma. A vontade de se inventar - e nao errar - parte de todos os lugares, de toda a gente. Por isso ainda nao consegui achar a casa onde o comercial foi filmado. Acho que nao foi aqui em Caracas.

A foto é de uma das muitas favelas, os chamados ranchos, espalhadas pela cidade.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Bellas Artes


O Parque Central de Caracas é o coracao cultural da cidade. Aqui encontra-se a maioria dos teatros, museus, galerias, além de um parque lindo, chamado Los Caobos.

Bem ao fundo, à esquerda, está a torre da mesquita da cidade, que fica em frente a um mosteiro católico maronita libanes. Mas nao se enganem, assim como o Brasil, a Venezuela é quase toda católica apostólica romana. As imagens de Cristo, dos santos e de todas as virgens Marias só nao ganham em popularidade para a de Chávez.

Mais à frente está o Teatro Teresa Carreño, do qual falei no post passado. Se vier a Caracas, nao deixe de conhece-lo. Para mim, até agora é o maior achado na cidade, ao lado do Museu de Bellas Artes, que tem um jardim estupendo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Solita, solita

Este post vai sem foto por motivos que vou explicar no decorrer de apressadas linhas que cabem em 10 minutos de ciber café.

Viajar sozinha, nunca ouvi, disse, suspeitei que fosse fácil. Passar um mes sem um rosto conhecido por perto é cansativo. O silencio da solidao é pior quando o unico som familiar é a sua própria voz arranhando um espanhol macarronico.

Caracas é uma cidade muito movimentada. A pobreza grita pelas ruas, mas o povo é alegre e trabalhador. Todos os dias tem alguma manifestacao pelas ruas, e as pichacoes, cartazes e debates acalorados nao deixam dúvidas de que aqui a politica é assunto para qualquer lugar e ocasiao. Nao dá para ser indiferente.

Mas ser viajante solitária por estas bandas é muito mais complicado do que julgavam as minhas ingenuas deducoes. Sair de casa é nao ter a certeza de que tudo ficará bem até o fim do dia. O clima de insegurnca esta em todo canto, na bolsa agarrada ao corpo da mulher no metro, no passo apertado e no olhar sempre atento do trabalhador no caótico fim de dia no centro da cidade.

Por isso ainda nao deu para sacar a minha maquina e sair tirando fotos adoidado. Um pena, porque há coisas belissimas por aqui, comecando pelas montanhas que cercam a cidade, até os predios historicos e o Teatro Teresa Carreño, muito bonito.

Viajar sozinha as vezes pode ser duro, mas sempre compensa quando os propositos sao elevados. Estou tendo bons momentos, e ja comecei os contatos com o pessoal da musica do Sistema de Orquestras Nacionais Juvenis, tema do meu trabalho. Assim que puder, falo mais. Se tudo der certo, com algymas fotos.

Beijos a todos!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A coisa


Na hora de arrumar a mala sempre surgem pelo quarto um papel solto, uma fatura de cartão do ano passado, uma foto que era para ter sido rasgada em 1998. Mesmo depois da faxina, e de finalmente descartar aquele casaco que ia ser tão útil quanto um cachorro morto na viagem, falta espaço para a escova de cabelo. Aí vem a lembrança de que era para comprar uma menor. E se faltou memória para uma simples escova de cabelo, alguma coisa muito séria eu devo ter esquecido.


Deve ser grave. De um jeito que nem do aeroporto eu consiga sair. Pior! Só quando chegar à Venezuela vou me dar conta de que não a trouxe, e sem a coisa não conseguirei voltar nunca ao Brasil. Vou vagar por Caracas, me alimentar de resto de arepa e beber rum barato pelo resto da minha vida!!!


Então volta tudo. Escova de cabelo-tênis-máquina-carregador-cartão de memória-short-saia-chinelo. Putz!, claro, escova de dente!!! Era isso! A coisa era a escova de dente!



Era nada...


Enquanto não viajo e fico presa para sempre em Caracas, vou arrumando a mala e garantindo o que nem na pior das aminésias pode faltar: passaporte, dinheiro e calcinhas.